sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Os perigos da palavra.

Por Roberto Gato
   Diz-se que a palavra tem poder. Se bem utilizada, edifica e transforma. Mal aplicada, fere, machuca e ofende causando traumas na alma do sujeito com seqüelas irreversíveis.
   Os veículos de comunicação devem ser livres, todos têm, constitucionalmente, o direito à informação, mas a mesma carta responsabiliza criminalmente os que ofendem, injuriam, caluniam. Quando se faz um programa de rádio, o que é dito através dos microfones devem ser sobepesados, pois do outro lado os rádios ouvintes merecem além da boa informação, respeito. Comentários, avaliações ponderações subjetivas do radialista e, por ser pessoal se transforma sempre num vôo perigoso por sobre o abismo da opinião. Ai então é que a coisa fica séria.
   Na manhã de sexta-feira (8), início da quadra momesca um trio de nordestino faziam um programa de rádio que se propõe ser de radiojornalismo e com comentários analíticos dos fatos e dos atos que acontecem no Amapá e até no resto do mundo, pois embora um deles achar que o Amapá está fora, ou na opinião dele transparece para os que chegam às terras de Macapá, que nossa capital está fora do mundo racional, culturalmente correto e cristão, fazemos parte do mundo apesar da nossa cultura, pois para ele, Fassi, ela é bizarra e pagã.
Nordestino tem em todo lugar e são pessoas maravilhosas. Trabalhadoras e produtivas. São Paulo com certeza não seria essa potencia econômica sem o braço nordestino. Uma mão de obra barata e abundante. Sobre tudo porque a seca sazonal do sertão nordestino é convite para o abandono de tão querido chão, que Luiz Gonzaga cantou tão bem. Só deixo meu Cariri, no último pau de arara. Deixou.
   Falo que eram três nordestinos só para enfatizar que se tratava de brasileiros de outra região, mas falavam do Amapá, óbvio. E como invoquei a Constituição Federal acima, para justificar o direito a informação, a invoco novamente para dizer que no artigo 5°, inciso VI, está garantido o direito de ir e vir em todo o território nacional em tempo de paz. Como não vivemos em guerra, graças a Deus, venham de onde vierem, só respeitem nosso chão, nossa história e nossa cultura.
   Fassi! O engenheiro Sérgio L’roque, um dos mais competentes engenheiros amapaenses e que um dia foi também do rádio, inclusive dono de uma das vozes mais belas desse chão, usou a criatividade para homenagear a cultura amapaense quando da construção de uma obra de utilidade pública. Uma Caixa d’água. Aquilo é uma caixa de marabaixo, nossa música raiz. O Amapá Fassi, diferente do Piauí, onde a população negra representa a absoluta minoria na composição étnica (7%) daquele grande estado brasileiro, a presença negra na nossa composição étnica é muito forte e o marabaixo faz parte da herança cultural dos nossos antepassados afro-descendentes. A caixa é o instrumento de percussão Fassi que dá ritmo a esta música. Não é de Umbanda, que, aliás, apesar do teu preconceito para o culto afro, a Umbanda é uma religião de origem africana e o Brasil é um País laico. Não tem religião oficial e a Constituição no artigo 5º, inciso VI diz que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida na forma da lei à proteção aos locais e suas liturgias. Não há paganismo na Umbanda, pois embora com denominações diferentes das demais religiões cristãs, a Umbanda também, cultua seus santos e Deus com suas peculiaridades naturais. Você cultua algum?
   Por derradeiro Fassi, o Totem que está fincado na Rodoviária de Macapá e uma simbologia indígena sim e representa e homenageia os habitantes primitivos do Brasil, nas suas mais diferentes etnias, como os Tremembés que não são reconhecidos como índios em seu estado natal cujo o topônimo Piauí deriva da língua indígena Tupi, que significa rio das piabas.
   Eu fazia meu exercício matinal e escutava o grande radialista GB o maior do Norte e Nordeste do Brasil. É que ele que se adjetiva assim e não vou contestá-lo e ouvi essas barbaridades advindas de sua boca. Muda de posição comigo, faça exercício físico, ligue o rádio lá no Piauí e eu mais dois amapaenses apresentando um programa de rádio e falando que a Batalha do Jenipapo, foi uma piada e que esse negócio de Cavalo Piancó, Samba de Cumbuca, Congada e etc é uma anarquia?
   Aliás, nossa cultura já foi vítima do preconceito de outro nordestino, o Procurador da República João Bosco, que entre outras atrocidades mandou prender o saudoso Pavão. Imagina isso! O Mestre Pavão considerado um baderneiro porque comemorava o ciclo do marabaixo. Aliás, Pavão foi um baluarte na perpetuação dessa musicalidade amapaense.
   Você pode falar o que acha parceiro, mais fala baixo e pra teus negos, rapaz. Respeita as caras. Tá na hora de nós macapaenses começarmos a sermos mais ufanos com nossas coisas, se não qualquer bichinho de orelha se acha no direito de pisar no que é nosso.

Nenhum comentário: