Seria até
irônico se não fosse trágico, tem coisas na vida de um homem que não tem como
escapar, proctologista é uma delas.
Imaginem a
cena.
Você já entra
no consultório do proctologista com mania de perseguição, parece que todo mundo
ta te olhando e te julgando, algo do tipo “é vai levar uma dedada”, você começa
a ficar paranóico e enxerga risadas irônicas no rosto de todos. O clima é tenso
quando a atendente chama seu nome, a primeira coisa que você faz é relutar em
levantar da cadeira, ai começa uma luta interior entre a razão e seu ego, “vou
ou não vou”. Finalmente você toma coragem e levanta.
Ao adentrar
naquela sala mau iluminada, avista um homem sentado lá no fundo atrás de uma
mesa, você caminha até ele sem nenhum contato visual, o Dr. Fulano Fica o tempo
todo de cabeça baixa e não lhe dá nem um bom dia.
-Bom dia Dr.
Você começa o
dialogo, e o médico responde.
-Deite
naquela maca na posição decúbito ventral.
Só pra
começar, que porra é decúbito ventral?
E tem mais,
na hora que ele aponta para a maca e você vê o tamanho do instrumento de
trabalho do cara me bate uma aflição, uma agonia no coração, aquela vontade incontrolável
de correr.
Já
posicionado você não pode se mexer, deita na maca e nem vira o rosto, não queira
olhar para a cara daquele amaldiçoado, a tensão é grande, você não faz idéia do
que vai acontecer, a expectativa vai aumentando a medida que você escuta os
sons dos instrumentos naquela maldita mesa de ferro. O doutor fala para você,
“não precisa ficar com medo” e você pensa, “como não? Tu fala isso por que não
é o teu que ta na reta seu desgraçado”. Do nada ele começa o exame, o sacana
mete o dedo e nem avisa antes, podia pelo menos fazer um carinho pro paciente
entrar no clima, tipo acender umas velas, colocar o Rei Roberto Carlos como
trilha sonora, mas não, ele não quer romance. E vem o primeiro grito e o
desalmado fala “calma”, como calma? De onde o infeliz quer que um cristão tire
calma em momento desses? E lavem ele mais uma vez, e lá vai o segundo grito, e
o sacana com cara de descontente sai de perto e com toda a raiva arranca luva
das mãos e caminha com passos fortes até a mesa, quando isso acontece você fica
meio sem saber o que fazer, não sabe se veste a roupa, se espera mais um pouco
ou xinga a mãe dele. Finalmente você volta a si veste a calça e senta em frente
ao tratante, ele lhe dá o diagnóstico, “Mas doutor deu pra ver direito” e cara
responde com ar de mulher que não gozou, “não né, você não deixou”, na hora que
você escuta isso, a primeira coisa que vem na sua cabeça é pular por cima da
mesa arrancar a calça do maldito e enfiar o dedão do pé com a unha grande e
falar pra ele “Calma”, mas você é uma pessoa calma e sabe que aquilo é o
trabalho dele, recebe as recomendações e sai da sala. Quando você vai passando
pelo corredor cabisbaixo e pensativo, passa pela ajudante do capeta “a recepcionista”
que dispara o tiro de misericórdia com toda a ironia que deus lhe deu, “Tenha
um bom dia”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário